quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O QUE É BLASFEMAR CONTRA O ESPÍRITO SANTO

A BLASFÊMIA NO CONTEXTO BÍBLICO

O tema blasfêmia contra o Espírito Santo foi abordado por Jesus em Mt 12.22-30 em razão da oposição dos líderes religiosos de sua época em quererem profanar os feitos de Jesus, atribuindo a Satanás o milagre por Ele realizado. Jesus, no entanto, enquadra os Fariseus na transgressão das Leis cerimônias mais sagradas do Antigo Testamento. Ele afirma categoricamente que a zombaria e o desprezo pelo culto sagrado engendrado pelo Espírito Santo por parte de pessoas que lideram o culto e o fazem deliberadamente usando o nome de Deus em vão afrontam e profanam o que é de mais sagrado – o ministério do novo testamento, o ministério do Espírito Santo, o ministério da reconciliação de Deus para com os homens através da pessoa do Senhor Jesus.
Quando Jesus fez essa afirmativa impingiu nesses líderes uma marca registrada bem conhecida no Antigo Testamento, a apostasia de Satanás através de Caim que matou seu irmão. Balaão que amaldiçoou e tentou profanar o sagrado. Core que se rebelou contra Moisés. Essa classificação de blasfêmia já era bem conhecida dos líderes religiosos do judaísmo e foi denominada por Jesus como apostasia.
A blasfêmia aqui é dentro de contexto teológico pastoral, não se trata de crente que se desviou da Igreja. Não se trata de crente que se batizou três vezes ou voltou para a idolatria. Não se trata de crente leigo rebelde, tampouco crente que virou feiticeiro ou budista, ou kardecista. Nem ainda trata-se de pessoas que zombaram do Espírito Santo.
O contexto próximo, isto é, os versículos que veem antes e depois reportam exclusivamente a atitude deliberada de oposição ao reino espiritual do evangelho por pessoas que lideravam a religião judaica.
Jesus foi morto seis dias depois de expulsar os vendedores do templo e os acusou de ter transformado a casa de oração em covil de ladrões. A presença de vendedores nos arredores do templo era um mal necessário, pois o judeu viajante não podia trazer sua oferta pela moeda pagã, precisava trocar pela moeda judaica, como também a comodidade de comprar um animal perto do templo.
Ocorria que toda transação comercial ao redor do templo tinha que ter a chancela dos sacerdotes e a eles era repassado propina de tudo que era comercializado. Ao denunciar e expulsar os vendedores, Jesus arrumou grande encrenca, pois mexeu no bolso dos sacerdotes. Foi a gota d'Água para transbordar o ódio dos líderes religiosos, que detinham o poder no Sinédrio para julgar, condenar e matar.
Não só esse fato denota a preocupação de Jesus em alertar as ovelhas para ter cuidado com os lobos devoradores e mercenários que permeiam o meio religioso, como também todo escopo dialético de seus sermões segue uma linha doutrinária de advertência para os crentes e repulsa pela ação dos obreiros fraudulentos.
Jesus teve asco desse tipo de líder religioso que usa o nome de Deus em vão transgredindo o III mandamento do decálogo. Usar o nome de Deus em vão para seu próprio interesse e não o interesse do reino de Deus, interpretando a bíblia de acordo com a própria conveniência é um pecado que deve ser combatido veementemente nos ensinos do Novo Testamento.
Em todo seu ministério Jesus dedica boa parte de suas homilias nesse tema: acautelai-vos dos falsos profetas dos fariseus, dos falsos líderes religiosos que veem com pele de cordeiro, mas são lobos devoradores.
Há uma doutrina bem articulada em cadeia de temas sobre esse assunto em todo o Novo Testamento, começando por João Batista que denunciou os fariseus e Saduceus chamando-os de raça de víboras, passando por Jesus que rechaçou a apostasia em seus discursos. Paulo, João e Pedro vão na mesma direção e classificam os obreiros fraudulentos como os que seguem a apostasia, são nuvens sem águas, estrelas errantes, árvores infrutíferas, duas vezes mortas.
Em Mt 7.15 Jesus adverte os discípulos com alerta de emergência: acautela-vos dos falsos profetas. Ele afirma que uma árvore boa não pode dar maus frutos e pelos frutos nós podemos conhecer. No versículo 21 Jesus adverte dizendo: nem todo religioso entrará no reino de Deus, mas aquele que faz a vontade de Deus..
No versículo 22 do capítulo 7 de Mateus Jesus disse com todas as letras que muitos pregadores fariam milagres, suas mensagens salvariam muitas pessoas, mas eles mesmos não entrariam jamais no reino de Deus.
No versículo 11 do capítulo 8 Jesus disse que muitos que se gloriavam por ter a chave do céu, pensando ser detentor do monopólio eclesiástico seriam lançados nas trevas exteriores e pessoas desconhecidas e de longe seriam congregadas ao reino de Deus sentando a mesa com Abraão.
Em Mt 10.16 Jesus nos envia para trabalhar como ovelhas no meio de lobos. Essa advertência denota a preocupação de Jesus nos alertando sobre pessoas perigosas no meio do seu povo. Neste mesmo capítulo e versículo 34 Jesus chama os líderes religiosos de raça de víboras alusão à tentação do Éden, a síndrome de Satanás. Quando alguns deles reivindicam para si a exclusividade do sacerdócio religioso de sangue e de genealogia, Jesus os chama de filhos do diabo, pois corre em suas veias a síndrome de Satanás.
Jesus os qualifica de condutores cegos que honram a Deus com suas palavras, mas seus corações estão longe de Deus. Inventam uma doutrina nova para arrancar dinheiro do povo e devoram até a casa das viúvas pobres.
Jesus chega a afirmar nesse contexto que a árvore que ele não plantou será tirada, deixando implícita a rejeição desses falsos líderes, portanto a apostasia, o mesmo que blasfêmia contra o Espírito Santo.
Em Mateus 16.6 mais uma vez usa a palavra acautelai-vos e no contexto qualifica tais obreiros de geração má e adúltera.
A parábola da figueira estéril em Mt 21 é um quadro ilustrativo da rejeição dos que não querem voltar ao primeiro amor e não podendo mais produzir bons frutos se tornam fortes candidatos a rejeição.
Em Mt 23 Jesus censura os escribas e fariseus na mesma linha do Profeta Isaías proferindo sentenças condenatórias imprescritíveis e inafiançáveis aos que se opunham a doutrina sadia do evangelho de Jesus. Isaías foi morto por denunciar os líderes religiosos associados com a política da época e refutou suas religiosidades que estavam desprovidas da verdadeira piedade.
Em Isaías 58 diz qual é o jejum que Deus se agrada? é aquele que despedaças a atadura da impiedade, da opressão para com os mais pobres, que repartas o pão com o faminto, cubra o nu e ajude o necessitado. Essa profecia contra os líderes da época de Isaías ficou famosa com os ais do profeta.
Jesus segue a linha de Isaías e desencadeia os ais contra os líderes religiosos do judaísmo. Ai dos escribas e fariseus que pensam ter a chave do céu, não entra no céu e tentam impedir que outros entrem. Ai deles porque devoram os pobres e as viúvas. Ai deles porque são condutores cegos. Ai deles porque juram pelo céu e pelo templo, mas somente para profaná-los. Ai deles porque são hipócritas perdendo tempo com costumes periféricos e esquecem da verdadeira doutrina. Ai deles porque o vaso da liturgia religiosa está brilhando por fora, mas por dentro está podre. Ai deles que parecem sepulcros pintados por fora, mas podres por dentro. Ai deles porque se justificam perante os homens com pretexto de santidade.
No capítulo 24 Jesus adverte sobre os sinais dos tempos nos últimos dias. Um dos principais sinais ou um dos primeiros é a proliferação de falsos profetas no meio do povo de Deus.
Você caro leitor pode assimilar tudo que foi escrito até aqui no evangelho de Mateus e aplicar para os líderes de hoje, você pode enquadrar aqueles que não mais pregam a sã doutrina, mas buscam apenas seus interesses medíocres, principalmente os de acumular riquezas, fama, glória, holofote e poder eclesiástico.
Jesus repudiou o poder político, quando afirmou que o seu reino não era deste mundo. Repudiou o uso indevido do poder eclesiástico quando repudiou o monopólio dos Escribas e Farizeus que ostentavam ter a chave do reino de Deus, além de não entrarem no reino de Deus se tornaram empecilho para outros entrarem.
Jesus repudiou o holofote ao rechaçar a gana do Fariseus e Saduceus pelos primeiros assentos. Não aceitou bajulação, mas veio para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.
Jesus enalteceu o caráter de João Batista como homem inigualável por sua capacidade de reconhecer a grandeza de Jesus e sua própria debilidade. João Batista não reivindicou honraria, título, posto eclesiástico. Reivindicou a função de canal de benção para as pessoas. João afirmou ser a voz que clama, ele reconheceu que Jesus era a palavra viva, o verbo vivo, e João apenas uma voz. O slogan do ministério de João Batista era seguinte: “importa que Jesus cresça na mesma medida em que eu diminua”.
Jesus cresceu em graça e conhecimento, mas o segredo do seu ministério foi a forma com atuou. Os falsos profetas buscam glória e estratégias para suplantar, Jesus usou a simplicidade e amou apaixonadamente as pessoas, principalmente o povão da periferia, alijado dos projetos políticos sociais.
A parábola do bom Pastor retrata a importância do ministério de Jesus como pastor que ama a ovelha desinteressadamente, mas ao mesmo tempo faz questão de ressaltar o cuidado que se deve ter com o ladrão. Há quem interprete o ladrão como o diabo. Mas no caso dessa parábola não cabe a interpretação. O ladrão aqui é o falso pastor, é o falso profeta. É aquele que mata a ovelha para comer ou para vender. É o que estamos vendo nos dias de hoje. A espoliação do povo em nome da teologia da prosperidade que procura arrancar dinheiro do povo a qualquer custo com pretexto de que a finalidade é pertinente.
Nós como protestantes, devemos protestar contra os que usam o nome de Deus em vão e transgridem o III mandamento usando o nome de Deus para o seu próprio interesse e não o interesse do reino de Deus.
Jesus disse: todos os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores, observe que não se trata do diabo. Ainda que o diabo é ladrão, mas não nessa parábola. Jesus se referiu as pessoas que usaram títulos eclesiásticos com promessas falsas de messianismo para reforma do judaísmo e do cristianismo.
O mesmo termo é usado na purificação do templo ao classificar os dirigentes do templo como ladrões. Vós transformastes minha casa em covil de ladrões.
No contexto de João 10 o ladrão é classificado como mercenário. Pedro em sua II epístola capítulo 2 e versículo 15 enquadra o profeta Balaão como mercenário que amou o prêmio de Bozor. Ele é classificado com Judas e Core na Epístola de Judas e os três são assemelhados a manchas nas festas religiosas, nuvens sem água, árvores infrutíferas, duas vezes mortas, destinados ao fogo eterno, portanto apostataram da fé e foram rejeitados, por isso blasfemaram contra o espírito Santo, pois usaram a função para profanar o sagrado.
Em Marcos 7 Jesus rechaça a hipocrisia dos Fariseus acusando-os de honrar a Deus com os lábios, mas seus corações estão longe de Deus. Ao fazer esse comentário Jesus interpretou a profecia de Isaías como sendo dirigida a eles. No mesmo capítulo Jesus afirma que os líderes da época invalidavam o mandamento de Deus para preservar tradições e comentários paralelos a Lei.
Jesus disse para os fariseus que o que contamina é o que sai do homem não o que entra. E que eles lavavam vasos e jarros e tinham toda aquela preocupação com o ritual, mas o interior destes vasos estava podre. O trocadilho irônico era pertinente, pois eles realmente se tornaram religiosos de casca.
Os maus pensamentos, o adultério, a prostituição, o homicídio, a avareza, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, o orgulho, segundo Jesus eram ingredientes que saiam de dentro do coração daqueles religiosos destilando veneno ás pessoas que os cercavam.
Os discípulos de Jesus são advertidos sobre o fermento dos Fariseus que buscavam milagres e sinais mirabolantes para impressionar o povo. Jesus afirmou em Mc 8 que nenhum sinal seria dado aquela geração. Jesus não reivindica para si poder espiritual para impressionar pessoas, pois ele é o verdadeiro poder.
A espiritualidade dos fariseus e Saduceus era uma espiritualidade de aparência emocional para impressionar o povo. Jesus não grita, não esmurra púlpito, não sapateia, mas suas palavras penetram profundamente nas pessoas e elas são impactadas pelo poder de suas palavras.
Quando Jesus aborda sobre o tema escândalo em Mc 9.42 está associando movimentos religiosos que usam o nome de Deus. E pode até usar, mas com responsabilidade. O fato de alguém estar num segmento religioso do qual não faz parte do meu convívio, não significa que devo descartá-lo. Haverá um julgamento para cada segmento religioso, aliás o julgamento já é feito.
O escândalo estará sempre seguindo aqueles que usam o nome de Deus em vão. Jesus disse: Ai daquele que escandalizar pessoas simples e humildes. A sentença para quem escandaliza o evangelho é penosa e sem escapatória. Na concepção de Jesus o lago de fogo espera pelos que causam escândalo. E partindo daqueles que detém o monopólio religioso a coisa fica muito pior, porque Jesus disse que aquele que mais ensina, dele será mais cobrado. Aquele que mais prega, que mais administra as riquezas espirituais do reino de Deus terá um julgamento mais apurado, menos tolerante.
No capítulo 12 de Marcos quando os Fariseus e Saduceus o interrogaram acerca do tributo romano, Jesus responde afirmando que eles estavam acostumados a tentar a Deus. Esse mandamento foi firmado por Moisés em Dt 6.16, transgredido por Adão no Éden e aprovado por Jesus no deserto. Jesus disse para Satanás: Não tentarás o Senhor teu Deus, pois está escrito na Lei.
A tendência dos líderes religiosos transgredirem esse mandamento é proporcionalmente maior do que em leigos, pois o fato de lidar todos os dias com a administração religiosa propicia uma calosidade em que a sensibilidade pode ser pulverizada na medida em que quem lidera o ritual se apodera de uma coisa que não lhe pertence.
O poder e a glória pertencem a Deus, nós apenas administramos e quando rotineiramente lidamos com isso, somos tentados a nos apoderar de um título que não é nosso, de uma vocação que foi outorgada. Muitos por não saber diferenciar esse limite caem no erro e perdendo a sensibilidade tentam a Deus.
Tentar a Deus é confiar que mesmo no erro Deus nos dará o escape, pode até acontecer, mas até quando? Até quando a taça vai transbordar. Até quando pessoas usarão o nome de Deus e ficarão impunes. Nesses últimos dias Deus tem exortado seus lideres a buscar a conversão, como o antigo Testamento exortou os sacerdotes. No Novo Testamento João batista exortou os Fariseus dizendo: arrependei-vos e convertei-vos, produzi ,pois frutos dignos de arrependimento e não presumais em vós mesmos dizendo: somos filhos de Abraão, temos o monopólio do reino de Deus.
Aqui há um forte indício de tentar a Deus, pois a pessoa passa a confiar num título religioso que não lhe pertence, foi outorgado por Deus, mas pode ser tirado a qualquer momento e a pessoa ao se descuidar disso pode cair no erro de que nada de mal lhe sobrevirá. Essa pessoa pode tentar a Deus como aquele que acelera seu carro a 180 km por hora. Ou aquele que sofrendo de diabete come uma rapadura sozinho. O mesmo que brincar com o pecado. O mesmo que abusar da bondade de Deus. O mesmo que abusar das prerrogativas. As prerrogativas são boas, mas não devemos abusar delas, pois assim estaremos tentando a Deus, cometendo um pecado que Jesus repudiou perante Satanás.
Satanás tentou a Deus quando por ocasião de sua audaciosa conspiração quis se assentar no trono do altíssimo. Sua tentativa foi uma atitude de tentar a Deus, além da soberba que brotou do seu coração. Por isso Paulo nos adverte para não separarmos obreiros despreparados para que não caiam na condenação do Diabo.
Na conclusão do evangelho de Marcos Jesus fala de sua vinda e faz questão de reforçar como nos outros evangelhos que um dos sinais evidentes de sua vinda é a proliferação de falsos profetas, falsos cristos, enganadores, fundadores de religião.
A traição de Judas é um indício da síndrome de Satanás. Ele como um dos príncipes do Senhor Jesus se tornou traiçoeiro e mercenário, pois, vendeu o que não se pode vender: a confiança e a fidelidade. Pedro afirma em atos que o salmista já havia falado a respeito de Judas no salmo 109 dizendo: 6.põe acima dele um ímpio, e Satanás esteja a sua direita. 7.quando for julgado saia condenando; e em pecado se lhe torne a sua oração. 8.Sejam poucos os seus dias, e outro tome seu ofício. 9.Sejam órfãos os seus filhos, e viúva sua mulher. 13. desapareça sua posteridade e fique deserta sua habitação.
Judas é citado por Jesus como filho da perdição. Pedro e Judas classificam os ministros do evangelho que entraram pelo caminho da apostasia como Apóstolos de Satanás. E a sentença é atribuída a eles com bastante rigor. São como cães que engolem o próprio vômito, ou a porca que volta a lama. A comparação é pertinente, pois, a blasfêmia caminha com apostasia que caminha com a rejeição.
A blasfêmia contra o Espírito Santo no estudo do Novo testamento ganha um escopo doutrinário bem específico para o ministério eclesiástico, com a finalidade de preservar os crentes alertando-os a luz das escrituras e alertar os líderes religiosos para que não entrem por esse caminho, pois pode ser um caminho sem volta. O caminho de Balaão e de outros que profanaram o sagrado usando a função eclesiástica.